PM que atirou em entregador de aplicativo no Rio tem conta banida de plataforma


Conhecido por amigos e familiares como Sorriso, Nilton Ramon de Oliveira trabalha como entregador de aplicativo há mais de 3 anos. Ele foi baleado na noite de segunda por um policial militar, após uma discussão sobre a entrega de um pedido. Cabo da PM atira em entregador por aplicativo em discussão por açaí O cabo da Polícia Militar que atirou em um entregador de aplicativo durante uma discussão teve a conta banida do Ifood, plataforma de delivery de alimentos, nesta terça-feira (5). A briga aconteceu depois que o policial se recusou a descer do apartamento para buscar o pedido de um açaí. A empresa reiterou que não tolera violência contra entregadores parceiros e que lamenta o que aconteceu com Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos. O jovem foi baleado na perna esquerda, e está internado. "Estamos em contato com a família, que já está recebendo o apoio jurídico, por meio de uma advogada da Black Sisters in Law, que dará seguimento em todo processo jurídico do caso. A conta do cliente em questão foi banida da plataforma", explica a nota enviada pelo Ifood. A plataforma destacou ainda que os entregadores não são obrigados a subir até aos apartamentos. "A obrigação do entregador é deixar o pedido no primeiro ponto de contato, seja o portão da casa ou a portaria do prédio. Essa é a recomendação passada aos entregadores e aos consumidores", completa. Rapaz se recupera em UTI O entregador de aplicativo baleado pelo policial militar está se recuperando na UTI do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, no Rio de Janeiro, depois de passar por uma nova cirurgia nesta terça-feira (5). Um tio de Nilton Ramon de Oliveira contou que o jovem abriu os olhos horas após a segunda cirurgia, já no fim da tarde desta terça. O primeiro procedimento cirúrgico foi na noite de segunda-feira (4), ainda na emergência. "Depois dessa nova cirurgia, ele já abriu os olhos, graças a Deus", afirma o familiar. O entregador Nilton Ramon de Oliveira (E) e o PM Roy Martins Cavalcanti Reprodução/TV Globo A família afirma que o disparo na coxa atingiu a veia femoral - artéria muito importante e que causa forte sangramento. O tio dele explicou que o projétil não precisou ser retirado porque, na verdade, atravessou a perna do jovem. A Secretaria Municipal de Saúde disse que o estado de saúde de Nilton ainda é grave. A expectativa da família é que, após o período na UTI, ele vá para o quarto e possa receber visitas. Entregador deve subir até o apartamento do cliente? Veja o que dizem os apps de delivery Protesto de amigos e colegas de profissão Na tarde de terça, motoboys fizeram um protesto na Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio, no mesmo local em que Nilton foi baleado pelo cliente que se recusou a descer para buscar o pedido na portaria. Motoboys fazem protesto no local onde entregador foi baleado por PM Segundo amigos, Nilton trabalha como entregador há mais de 3 anos e é conhecido por todos pelo apelido de Sorriso. Nos últimos oito anos, 44 entregadores/motoboys foram baleados na Região Metropolitana do Rio, sendo que 36 morreram, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. "Até pela vida difícil dele, o foco não era o estudo, e sim o trabalho. Sempre comprou tudo com o dinheiro dele, nunca precisou de pai e nunca precisou de mãe. É um menino de coração muito bom, que quer ajudar as pessoas. O sonho dele era ter uma vida melhor. Não só para ele, mas para todos.”, contou um amigo de Nilton, que não quis ser identificado. O caso Nilton sempre trabalhou na região da Praça Saiqui, que conta com bares e restaurantes e tem um grande movimento de entregas pelos aplicativos de delivery. Nesta terça, Nilton foi fazer uma entrega em uma rua gradeada do bairro. Ao chegar ao portão do endereço, o cliente exigiu que o entregador levasse o lanche até a casa. Nilton explicou que não era obrigado a entrar, e os dois começaram a discutir por mensagens no aplicativo. Diante da recusa do policial em encontrá-lo, Nilton acionou o protocolo de devolução na plataforma e voltou para a loja. O PM, no entanto, o seguiu. A discussão começou na Praça Saiqui e o entregador gravou o que acontecia. A arma do PM aparece na gravação, mas o momento do disparo não foi registrado. O atendente Jeferson Coimbra viu quando o PM atirou. Entregadores fazem protesto pacífico em frente ao salgado Filho, hospital onde está internado o entregador Nilton Ramon, baleado por um policial militar, na vila Valqueire. CLÉBER MENDES/ESTADÃO CONTEÚDO “Ele chegou a prestar um primeiro socorro para ele, entrou no carro e foi embora, falando que era polícia”, disse. Depois da discussão, outros entregadores protestaram em frente ao condomínio onde a briga começou. O autor do disparo, o cabo Roy Martins Cavalcanti, se apresentou na 30ª DP (Marechal Hermes). A 28ª DP (Campinho) abriu um inquérito para investigar a situação e a Corregedoria da PM abriu um procedimento para apurar o fato. LEIA MAIS: TOCANTINS: VÍDEO: Entregadores arrombam portão da casa de cliente que se negou a pagar pizza Motoboys trabalham mais e ganham menos ao usar aplicativos, aponta IBGE O que disse o PM A prévia de ocorrência da 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar está registrada como “lesão corporal por perfuração de arma de fogo, em legítima defesa”. No documento, Roy contou que chegou do serviço por volta das 19h40 e encontrou a esposa nervosa, “pois havia sido destratada pelo entregador do iFood, que se negou a entregar o lanche”. Ainda a pedido da mulher, Roy foi até a Praça Saiqui para reaver a entrega. O PM afirma que “a todo momento era ofendido por Nilton, que incitava outros entregadores”. “Roy, para resguardar sua segurança, diante da atitude agressiva de Nilton, sacou sua arma e verificou se Nilton estaria com algum armamento”, prossegue o registro. “Nilton incitou os demais entregadores, que começaram a se inflamar contra Roy. O policial, já com a arma em porte velado, conversou com demais entregadores e explicou sobre a atitude desrespeitosa e agressiva do entregador.” A mulher de Roy ligou para o 190 e pediu reforço. O cabo pediu que Nilton esperasse a chegada dos policiais, “mas o entregador se negou”. “Nilton tentou pegar a arma de Roy, que, para preservar sua vida, efetuou um disparo na perna esquerda de Nilton”, destaca o registro. “Neste momento, Roy fez um torniquete na perna de Nilton e ligou para o 193 solicitando socorro”, finalizou. O cabo foi ouvido pela Polícia Civil e liberado. A arma chegou a ser acautelada, mas acabou devolvida.

source https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/03/06/pm-que-atirou-em-entregador-de-aplicativo-no-rio-tem-conta-banida-de-plataforma.ghtml
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