Réus pela morte de Santiago Andrade vão a júri popular quase 10 anos após o crime: 'Esse pesadelo precisa ter fim', diz filha


'Tiraram principalmente o privilégio de ver nascer a sua neta', disse a filha Vanessa, mãe da Maitê, de 6 anos. Para acusação, réus assumiram risco de matar atirando rojão; defesas alegam 'fatalidade'. Morte do cinegrafista Santiago Andrade vai a júri popular após quase 10 anos Começa nesta terça-feira (12), o júri popular dos dois manifestantes acusados de matar o cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante protesto no Centro do Rio em 2014. Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza são réus por homicídio triplamento qualificado – por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e emprego de explosivo – e pelo crime autônomo de explosão. A pena prevista é de 12 a 30 anos de prisão. Eles chegaram a ficar presos, de 2014 a 2015, e hoje respondem em liberdade. O g1 conversou com a filha dele, Vanessa Andrade. Para ela, o júri, marcado após quase 10 anos de espera é fundamental para diminuir a dor da família. "Era um homem que só estava cumprindo com seu trabalho de levar informação para a sociedade. Quem matou Santigo não pode sair impune. A minha família precisa voltar a viver, esse pesadelo precisa ter fim", afirmou Vanessa. Sequência de fotos do momento em que o cinegrafista Santiago Andrade é atingido por um rojão durante protesto no Rio rendeu prêmio a fotógrafo d'O Globo Domingos Peixoto/Agência O Globo Santiago Andrade, que era repórter cinematográfico da Bandeirantes Reprodução/Arquivo Pessoal Ao RJ2, Vanessa Andrade, mãe de Maitê, de 6 anos, conta que a filha se refere ao avô com outro nome: "São Tiago": "Tiraram principalmente o privilégio de ver nascer a sua neta, de ver crescer essa menina incrível, que carrega o sobrenome dele, que ele tanto se orgulhava." Acusação vê em risco assumido de matar A advogada Carolina Heringer, que representa a família da vítima, lembrou que havia conflitos diversos entre manifestantes e policiais naquele período, e que Caio e Fábio tinham como objetivo utilizar o rojão em direção aos agentes e, portanto, assumiram o risco de ferir ou matar alguém – o chamado dolo eventual. "Eles usaram o rojão como uma arma, claramente, e obviamente sabiam que esse artefato poderia ferir ou matar alguém. Isso não pode ser tratado como um acidente, foi algo que era previsível acontecer e os réus simplesmente não se importaram com o resultado que seus atos teriam. De forma alguma temos uma conduta culposa, mas sim dolosa", avaliou. O cinegrafista Santiago Andrade teve morte cerebral decretada quatro dias depois de ser atingido por rojão na cabeça Arquivo Pessoal Segundo Heringer, a preocupação da família é uma pena mais baixa, com chances de o caso prescrever e ser arquivado. "O grande receio da família é que de fato haja essa desclassificação que não seja mais crime doloso contra a vida, que seja homicídio culposo ou explosão com resultado morte, logicamente crimes com pena muito mais baixa." Junho de 2013, 10 dez anos depois: família de cinegrafista morto em protesto aguarda júri Em junho, uma reportagem do g1 ouviu Arlita, viúva de Santiago, e sua filha Vanessa, que contaram sobre a longa espera por um júri popular. “A gente não fecha um ciclo. Ainda que a vida continue, essa página nunca vai ser virada. Enquanto isso não se resolver, ela não vira”, disse Vanessa. A Justiça do Rio determinou uma nova data três dias depois. O julgamento estava previsto para acontecer em 2019, mas foi suspenso após um habeas corpus. O motivo era a ausência de imagens da câmera do cinegrafista que foram gravadas no dia 6 de fevereiro, em que ele foi atingido durante a manifestação no Centro do Rio. Relembre notícias sobre o caso: Santiago Andrade morre aos 49 anos Após quase 10 anos, justiça marca júri popular Suspeito de atirar rojão é preso 2013, dez anos depois O que dizem as defesas de Caio e Fábio Polícia Civil divulga foto atualizada de Caio Silva de Souza, de 23 anos, suspeito de lançar o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade Divulgação / Polícia Civil Para as defesas dos dois acusados, a morte de Santiago foi uma fatalidade, e não houve intenção de Caio e Fábio de matar o cinegrafista. A defesa alega que ele já se manifestou inúmeras vezes e sente muito pelo que aconteceu. "Espera-se que os jurados reconheçam que, obviamente, os acusados não tiveram qualquer intenção ou anuíram com a triste morte de Santiago de Andrade. De qualquer maneira, Caio Silva de Souza sente muito pelo ocorrido e se solidariza com a família do cinegrafista que perdeu a vida enquanto exercia seu ofício", diz a defesa, formada pelos advogados Antônio Pedro Melchior, Leonardo Rivera e Rodrigo Faucz. "Espero a justiça. Não houve dolo, sequer eventual. Na hipótese, os agentes atuaram sem a observância do dever de culpado, por isso o crime é culposo", afirmou Wallace Martins, advogado de Fábio Raposo. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Reprodução / TV Globo Os advogados tentaram novamente um habeas corpus para suspender o júri por conta de falta de imagens da câmera utilizada por Santiago no momento em que foi atingido, mas o pedido foi negado. A defesa de Caio alega que a emissora onde ele trabalhava apagou imagens gravadas pelo cinegrafista, o que "impede que todas as circunstâncias do crime sejam analisadas". A juíza Tula Corrêa de Mello, da 3ª Vara Criminal, que negou o pedido, a prova é dispensável, uma vez que posteriormente foram apresentadas mídias que revelariam a dinâmica até Santiago ser atingido.

source https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/12/12/reus-pela-morte-de-santiago-andrade-vao-a-juri-popular-quase-10-anos-apos-o-crime-esse-pesadelo-precisa-ter-fim-diz-filha.ghtml
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