Cantora e empreendedora cervejeira luta para ampliar produção: 'É preciso olhar para potências pretas'


✊🏿 Neste mês da Consciência Negra, o g1 publica a série de reportagens Potência Preta, em que mostra exemplos de mulheres negras que enfrentaram – e ainda enfrentam – obstáculos para construir e gerir o próprio negócio. Conheça a cantora e empreendedora cervejeira Cinara Gomes Cinara Gomes, de 46 anos, é cantora e cervejeira, nessa ordem, respeitando a "hierarquia do amor", como gosta de dizer. Criadora e sócia da Cerveja Serafina, ela começou a produzir a bebida em casa, na panela mesmo, para convidar os amigos para degustar. A ideia de transformar o hobby em empreendimento veio do parceiro musical, e hoje sócio, Rafael Soares. "Quando a gente se conheceu, no final de 2015, cantando samba, ele se apaixonou pela cerveja e falou: 'Vamos vender para divulgar nossos projetos musicais?'. Eu topei e, juntos, fomos aprimorando a receita", contou Cinara. ✊🏿 Neste mês, quando é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, o g1 publica a série de reportagens Potência Preta, que mostra exemplos de mulheres negras que enfrentaram – e ainda enfrentam – obstáculos para construir e gerir o próprio negócio. Cinara Gomes é cantora e cervejeira Leonardo Milagres/ g1 Serafina Em 2016, surgiu a inspiração para o nome da marca: dona Serafina era benzedeira e cantineira, mulher preta e amiga de longa data de Cinara. "Ela faleceu, e eu fiquei muito triste com a partida dela. Eu estava estudando tecnologia cervejeira, procurando um nome para a minha cervejaria e decidi homenageá-la. Nada melhor do que homenagear uma mulher preta que tinha esse dom de cura, essa mão sagrada. Tenho certeza que ela me abençoa muito", disse. Em dezembro de 2018, depois de cerca de três anos vendendo a cerveja informalmente, Cinara e o sócio passaram a alugar uma fábrica, em Belo Horizonte, para produzir a bebida em maior escala. O principal produto da marca é uma American Pale Ale com três tipos de lúpulo. Nome da Cerveja Serafina é homenagem a uma benzedeira amiga de Cinara Gomes Leonardo Milagres/ g1 🍺No ano seguinte, os dois começaram a vender a Cerveja Serafina em um bar de Belo Horizonte, onde cantavam samba. 🍺Os pontos de venda cresceram, e a produção aumentou, até chegar a 2 mil litros por mês. Então, veio a pandemia. "Eu tinha quase 3 mil litros prontos na fábrica. Nós engarrafamos tudo e começamos a fazer delivery de porta em porta. A gente avisava os amigos, juntava os pedidos e entregava às sextas. Foi muito difícil, eu pensei em desistir várias vezes", disse. Após a reabertura dos bares, Cinara e Rafael voltaram a vender para os estabelecimentos, mas em menor quantidade. Hoje, eles produzem 800 litros por mês da American Pale Ale. "A gente ainda não se recuperou da pandemia. O impacto foi gigantesco", afirmou Cinara. Mulheres negras empreendedoras foram as mais prejudicadas pela pandemia Arte/ g1 Ambiente machista E ainda há outros desafios. Como os sócios não têm fábrica própria, o custo do aluguel é embutido no valor da cerveja, que acaba ficando mais cara nos pontos de venda parceiros. Falta capital de giro para investir e tornar o preço da bebida mais acessível. "Eu sou uma empreendedora que não tem carro, não tem câmara fria nem ponto de venda próprio, por muito tempo eu guardava a cerveja na geladeira do meu pai. Eu empreendo no axé também, no amor, mas isso tem que mudar. A gente tem conhecimento, competência. Eu preciso baratear minha cerveja, mas, para isso, preciso vender mais. Para vender mais, preciso abaixar o preço, eu fico nesse imbróglio", disse. Para Cinara, não é fácil ser uma mulher empreendedora no mercado de cerveja, predominantemente masculino. Mas ser uma mulher preta empreendedora significa ter que enfrentar ainda mais dificuldades. "É um ambiente muito machista, que não confia no trabalho de mulheres que estão à frente de empreendimentos. E mulher preta, então, é pior ainda, porque ela tem o estigma de serviçal, de subserviência. Jamais nos referenciam como mulheres com conhecimento e competentes, em qualquer instância. O trabalho é triplicado, você tem que provar sua qualidade muito mais do que qualquer outra pessoa", afirmou. Cinara Gomes diz que é difícil ser uma empreendedora preta no mercado cervejeiro Leonardo Milagres/ g1 O sonho de Cinara é abrir um ponto de venda próprio, um espaço que misture música, gastronomia e cerveja e celebre a cultura preta. Ela também quer ter a própria fábrica, mas não só para a Serafina, mas sim uma cervejaria cooperativa, onde outros empreendedores possam produzir. "Quero que os meus também tenham oportunidade de empreender. Se eu tivesse um investidor que me ouvisse neste momento, eu falaria: 'Eu posso, eu tenho a música, o legado cultural do meu povo e tenho potência nas mãos'. Eu não deveria precisar passar por tanta dificuldade para conseguir provar minhas competências. O mundo precisa olhar para as potências pretas". Veja os vídeos mais assistidos do g1 Minas

source https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/11/26/cantora-e-empreendedora-cervejeira-luta-para-ampliar-producao-e-preciso-olhar-para-potencias-pretas.ghtml
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