Historiador e antropólogo da BA explicam por que acarajé pode ser reconhecido como patrimônio histórico cultural de outro estado


Bolinho de feijão ancestral foi considerado patrimônio nas terras cariocas após aprovação de Projeto de Lei. g1 conversou com professores para entender decisão. Combo montado pelo Acarajé da Cira Divulgação/Acarajé da Cira E O governo do Rio de Janeiro divulgou, através do Diário Oficial, na última semana, que o acarajé se tornaria patrimônio histórico e cultural do estado. Conhecido por ser uma comida típica associada a Bahia, a decisão teve repercussão nas redes sociais, onde baianos questionaram o motivo pelo qual o bolinho de feijão se tornaria "carioca". 📱 NOTÍCIAS: faça parte do canal do g1BA no WhatsApp O professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e doutor em antropologia, Vilson Caetano, afirma que o acarajé não é nem baiano, nem carioca: é africano. A comida típica chegou ao Brasil através dos africanos escravizados e se consolidou no estado mais negro do Brasil, a Bahia. “O acarajé não é da Bahia, é do mundo. Por onde o africano iorubá passou, ele fez bolinho de feijão. O acarajé não é de um estado, ele é universal", afirmou. Nesta matéria, você vai entender: O que significa ser considerado patrimônio histórico. O acarajé é considerado patrimônio histórico baiano? O acarajé é considerado patrimônio histórico de Salvador? O que a associação de baianas de acarajé pensa sobre o acarajé ser patrimônio histórico e cultural do Rio? O que significa ser considerado patrimônio histórico? Entenda por que acarajé pode ser reconhecido como patrimônio histórico cultural do RJ Para o historiador e influenciador digital, Matheus Buente, quando um estado declara que algo é considerado patrimônio histórico, isso demonstra a importância desse objeto para a cultura do local. “Quando algum lugar decreta algo como patrimônio histórico cultural, ele não está dizendo que aquele ‘bagulho’ é daquele lugar. Está dizendo apenas que é importante para a cultura, porque é uma cidade de população negra grande, com forte influência africana, e lá também se vende acarajé”, explicou em um vídeo publicado nas redes sociais. Para Matheus, considerar o acarajé como patrimônio histórico é importante para a preservação do bolinho de feijão, tanto na forma de fazer, como de vender e consumir. O acarajé é considerado patrimônio histórico baiano? Preparo do acarajé, em Salvador Globo Repórter Em 2002, a Associação de Baianas de Carajé e Mingau do Estado da Bahia, o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia e o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, encaminharam ao Ministério da Cultura um pedido para que o acarajé fosse considerado patrimônio cultural brasileiro. Após diversos estudos, em 2004 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entendeu que o acarajé é "o alimento emblemático do universo dos saberes e modos de fazer das baianas do tabuleiro". Por isso, o instituto decidiu tornar o ofício das baianas de acarajé em Salvador como patrimônio cultural brasileiro. LEIA TAMBÉM Memorial das Baianas de Acarajé, em Salvador, é entregue após passar por obras Para Vilson Caetano, tornar o trabalho das baianas como patrimônio incluiu o acarajé - e os outros alimentos vendidos no tabuleiro. "Quando se fala do ofício da baiana de acarajé, é uma maneira de incluir os alimentos do tabuleiro, o modo de fazer a maneira de vender. O documento diz que, do tabuleiro, a comida emblemática é o acarajé", afirmou. Apesar da decisão já incluir o bolinho de feijão, para o doutor em antropologia é importante que o alimento seja reconhecido como patrimônio em outros estados. Para ele, o reconhecimento e da comida sagrada nas religiões de matriz africana anda junto com a valorização da cultura. "A Bahia sozinha não vai vencer o racismo. O acarajé também é símbolo de resistência, faz parte da história", afirmou. O acarajé é considerado patrimônio histórico de Salvador? Uma lei municipal sancionada em junho de 2002 instituiu o acarajé como Patrimônio Cultural de Salvador. A lei foi sancionada antes da própria decisão do Iphan, em 2004. Na ocasião, a lei nº 6138/2002 foi assinada pelo prefeito da época, pelo secretário municipal do governo e pela secretária de educação. O que a associação de baianas de acarajé pensa sobre o acarajé ser patrimônio histórico e cultural do Rio? Baianas do acarajé em Salvador Globo Repórter Para a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), não há problema no reconhecimento do acarajé como patrimônio histórico e cultural no Rio de Janeiro. Para a entidade, a questão está na ausência da mesma lei na Bahia. Para a associação, o reconhecimento do bolinho de feijão como patrimônio pode proteger o alimento de "absurdos" como alterações de sabor, modo de preparo e de venda. "Já travamos várias discussões a respeito desta apropriação cultural indevida e demasiada. Ainda é comum percebermos a comercialização do acarajé com nome de “bolinho de Jesus”, temperado com catchup, maionese ou mostarda, acompanhando a coloração do modismo americano, inclusão de ingredientes que não pertencem a sua construção ancestral como bacalhau, siri entre outros sabores", afirmou. Ainda de acordo com a ABAM, a entidade está em diálogo com a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) para tentar formular a lei. Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

source https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/10/31/historiador-e-antropologo-da-ba-explicam-por-que-acaraje-pode-ser-reconhecido-como-patrimonio-historico-cultural-de-outro-estado.ghtml
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