De péssimo aluno a colecionador de aprovações em concursos: como francano mudou a vida com estudo


Sem exemplo de sucesso em casa e recusado no primeiro emprego por não saber o que era 'cento', Mateus Andrade explica o que o levou a se interessar pelos livros e de que forma acabou transformando a carreira. Após anos longe dos estudos, Mateus Andrade, de Franca (SP), chegou a passar em seis concursos públicos Renato Moura Quem vê onde Mateus Andrade, de 39 anos, está hoje, nem de longe imagina que estudar já foi um grande problema para ele. Péssimo aluno, chegou a repetir de ano por ficar de recuperação em mais matérias do que a escola permitia, foi recusado do primeiro emprego por não saber o que era 'cento' e não tirava notas maiores que D. Receba no WhatsApp notícias da região de Ribeirão e Franca "Não ligava para nenhuma matéria, mas a que eu era mais fraco era português, porque, como não gostava de ler, tinha dificuldade na parte de interpretação. Não sabia colocar vírgula, ponto, acentuar. Deixava todas as palavras sem acento, porque pensava 'acho que tem, mas vai que coloco no lugar errado?' Fica mais feio do que deixar sem". Mateus Andrade com 11 anos: 'falta de referência tirava motivação para estudar' Arquivo pessoal Natural de Franca (SP), Mateus conta que na casa dele, ninguém da família tinha diploma e, por isso mesmo, faltavam exemplos de que o estudo, de fato, valia a pena. "Não tinha ninguém que tinha vencido pelo estudo, não tinha ninguém com nível superior. A falta de referência tirava ainda mais a motivação para estudar". Sem paciência para os livros, ele colocou cedo na cabeça que o futuro estava no trabalho. O primeiro emprego veio logo aos 14 anos, mas Mateus acabou recusado porque não passou no teste de matemática. "Era uma empresa de parafusos em Franca, que minha mãe conhecia o dono. Só que [para começar a trabalhar] era preciso fazer um teste de matemática. Lembro que tinham umas questões 'fulano comprou um cento de parafusos e vendeu com 30% de lucro, qual o preço de venda?' Não sabia o que era cento, então errei todas. Acabei indo trabalhar em fábrica". Por anos, a relação dele com os estudos foi próxima a zero, enquanto que a relação com o trabalho crescia. Como Franca é polo calçadista, foi para este segmento que Mateus foi levado. "Fiz de tudo, trabalhei furando ilhós, que é aquele negócio que passa o cadarço, trabalhei em máquina de bordar, com serigrafia, esse foi o começo. Com 14 anos, tinha trabalho formal mesmo, de oito horas, não era nada meio período. Por boa parte da minha vida, sempre priorizei a questão do trabalho, acreditava que ia vencer na vida pelo trabalho, falava 'se for para dar certo, vai ter que ser no trabalho', porque nunca confiei que seria alguma coisa com base em capacidade intelectual". Mateus Andrade, de Franca (SP), durante o período que trabalhou em uma fábrica Arquivo pessoal Apanhando da vida Mateus coleciona tropeços na escola desde o 5º ano do Ensino Fundamental. Segundo a mãe dele, Luzia de Fátima, o único período que o filho se saiu melhor, foi na educação básica. "Minha mãe conta que por volta da 3ª série, eu era bom aluno, tinha algumas notas melhores. A partir da 5ª série é que desandou. Ela chegou a me mudar para uma escola mais fraca para ver se eu conseguia passar de ano". O desinteresse completo pelos estudos fez com que Mateus repetisse o 1º ano do Ensino Médio e, com muito custo, ele terminou a graduação. Vestibular não era algo que passava pela cabeça dele, mas as coisas começaram a mudar quando viu a vida estagnar. "Minha vida estava indo para um caminho que não era o que eu queria. Estava sem grana, com um emprego que mal pagava minhas contas e, aos 18 anos, com todos os amigos tirando carta, comprando carro ou ganhando o carro dos pais, eu não tinha nada. Vestibular estava fora de cogitação, porque a base escolar era ruim. Comecei a apanhar um pouco da vida, por conta de estar trabalhando só como operário. Nada acontecia". Com 20 anos, Mateus decidiu tentar um curso técnico, mesmo sabendo das dificuldades que poderia enfrentar por não ter conhecimento básico. A surpresa veio quando ele resolveu se dedicar e conseguiu ser aprovado entre os quatro últimos da lista. "Fiz um vestibulinho para um curso técnico de administração. Eram 80 vagas e fiquei em 76º. Dei a vida na prova, fiz o meu melhor, me esforcei e fiquei no finalzinho da lista, mas consegui entrar e aí me abriram algumas possibilidades. Pude sair da fábrica e consegui um estágio em uma cooperativa. Passei a conviver com pessoas diferentes, que estavam buscando algo melhor. O ambiente influenciou bastante". Até os 9 anos, Mateus Andrade tinha boas notas, mas acabou se desinteressando pelos estudos conforme crescia Arquivo pessoal Reprovação no curso técnico e mudança de percepção Mateus acabou reprovado ao fim do curso, mas já estava decidido a mudar. Aos 22 anos, ele conta, começou a dar mais valor aos estudos. "Comecei a me esforçar um pouco mais, ainda acabei reprovado nesse curso técnico, não me formei, mas já tive um pouco de experiência de que quando eu estudo, as coisas começam a melhorar". Ele passou a estudar com mais frequência e conseguiu passar na faculdade de administração. Também começou a pesquisar sobre concursos públicos, quando viu a mulher do chefe ser aprovada para um cargo na Receita Federal e se encantou com a possibilidade de mudança de vida que o casal teria a partir dali. "Ele ia acompanhá-la [no estado que ela assumiria o cargo] e lembro que olhava e pensava 'essa mulher resolveu a vida, passou no concurso público e agora está tranquila'". Foi nessa época também, já por volta dos 26 anos, que Mateus leu o primeiro livro da vida: Como estudar para concursos. Aprovações e o começo de uma nova carreira Agora focado nos estudos, Mateus passou a estudar -- e muito -- e se tornou especialista em concursos públicos. Disposto a arriscar, começou a se inscrever para diferentes cargos e em diferentes concursos. Passou raspando nos dois primeiros e, no terceiro, foi nomeado, mas não empossado. De lá para cá, foram sete aprovações, duas delas em primeiro lugar. "Passei no concurso de oficial da promotoria, passei no Banco do Brasil por duas vezes, acabei não tomando posse, porque já havia passado no concurso de escrevente do Tribunal de Justiça de São Paulo, que eu passei em primeiro lugar. Depois passei em concurso de assistente legislativo, analista do Ministério da Fazenda e fiscal de tributos, que era um salário mais alto". Hoje, Mateus ganha a vida ensinando as pessoas a estudar. Ele explica que utiliza uma metodologia onde alterna as matérias para não esgotar o cérebro com apenas um assunto. "Na época que comecei a estudar [para os concursos], estudava de maneira equivocada, que é quando a pessoa estuda tudo de uma vez. Estudava uma matéria inteira e depois começava a estudar outra matéria na hora que acabava a primeira. Chegava no final, já não lembrava mais da primeira matéria que eu tinha estudado. Até que descobri um método de estudo por ciclos, que você vai alternando entre as matérias. Você não estuda uma matéria até acabar". A metodologia dele envolve estudar até três matérias por dia, com, pelo menos, uma hora de dedicação para cada uma. "Isso foi minha rotina durante praticamente toda a minha jornada para concurso público, essas três horas líquidas, que são horas de estudo todos os dias. Tive 97% de acerto em uma prova e 97,5% de acerto em outra". Desde 2017, Mateus usa as redes sociais para ensinar formas de tornar o estudo eficiente e conquistar a tão sonhada vaga em um concurso público. "Basicamente pintei uma parede e comecei a gravar vídeo do celular mesmo". O canal dele no YouTube começou de maneira bem amadora, mas já conquistou mais de um milhão de inscritos e é um dos mais buscados por pessoas que, assim como ele já quis, também buscam pelo cargo dos sonhos. Mateus Andrade, de 39 anos, ganha a vida ensinando usuários da internet e passarem em concurso público Renato Moura Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

source https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2023/10/30/de-pessimo-aluno-a-colecionador-de-aprovacoes-em-concursos-como-francano-mudou-a-vida-com-estudo.ghtml
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