Justiça exige exames em capivaras para controle de febre maculosa em Limeira; jovem de 17 anos morreu pela doença em março


Juiz intimou prefeitura a apresentar resultado de sorologia dos cerca de 40 animais que se concentram em parque; administração diz que fez pedido de manejo das capivaras ao governo estadual, que cita proibição prevista em resolução e monitora caso. ARQUIVO: Capivaras caminham próximas a frequentadores de parque em Limeira Reprodução/ EPTV A Justiça de Limeira (SP) intimou a prefeitura da cidade a comprovar a realização de exame de sorologia em capivaras presentes no Parque Ecológico do Jardim do Lago. No local, vive um grupo de cerca de 40 animais. A intenção é identificar se elas são hospedeiras do carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa. A cidade registrou em março deste ano a morte de uma pessoa de 17 anos pela doença. Cinco casos ainda estão em investigação na cidade. No ano passado, foram três mortes. Em outubro de 2022, a Justiça tinha determinado que a administração municipal apresentasse um cronograma para a realização dos exames. Já no último dia 5, intimou a prefeitura a apresentar o resultado do exame de sorologia. As medidas foram tomadas em uma ação civil pública movida pela Associação de Moradores de Amigos do Jardim Aeroporto contra a prefeitura. Quando ajuizou o processo, em 2018, a associação pedia a remoção dos animais do local. Em nota ao g1, a Secretaria de Saúde da cidade informou nesta quarta-feira (14) que há um processo de autorização para manejo das capivaras junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, mas que ainda não há autorização da pasta para esse procedimento. No entanto, não respondeu se já realizou o exame de sorologia, seu resultado ou quando o apresentará à Justiça. Já a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo comunicou que o caso de Limeira tem sido acompanhado por meio de contatos contínuos com os coordenadores municipais de vigilância em saúde, além do monitoramento de carrapatos-estrela na localidade. "É importante manter os frequentadores e profissionais do parque informados sobre o risco de transmissão da febre maculosa, por meio de placas informativas e de capinagem da vegetação 'gramíneas' para redução dos abrigos de carrapatos", apontou. Capivara, hospedeiras do carrapato-estrela, em parque de Limeira Reprodução/ EPTV As capivaras podem ser removidas? O Instituto Pasteur informou que uma resolução conjunta das secretarias estaduais de Saúde e de Meio Ambiente, editada em 1º de julho de 2016, proíbe a remoção dos animais para outras áreas. Essa normativa descreve as recomendações para o manejo dos animais, que destaca a esterilização das capivaras e a manutenção dos animais no local. "A remoção das capivaras só é permitida quando o local de destino é fisicamente fechado, de forma que impeça que novos animais colonizem a área. Aqueles que forem removidos devem ser abatidos, não sendo permitida a translocação, motivo pelo qual está mantido o entendimento de que a remoção das capivaras não é indicada, afinal, trata-se de animal silvestre", explicou a pasta estadual de Saúde. No entanto, também conforme a secretaria, é necessário realizar o isolamento por meio de barreiras “cercas”, para impedir o contato desses animais com os frequentadores do parque. Aviso em área com risco de febre maculosa em Limeira Reprodução/ EPTV Quais são os locais de risco na cidade? A Prefeitura de Limeira informou que quando recebe a notificação de casos suspeitos, a Divisão de Zoonoses realiza a investigação de identificação do local provável da fonte de infecção (LPI) e a técnica do levantamento acarológico. A administração observa que não há registro de casos de febre maculosa cujo LPI tenha sido o Parque Ecológico do Jardim do Lago. No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde elenca o espaço entre os locais com potencial para a presença do vetor da doença. Confira quais são eles: Horto Florestal Propriedades particulares Área do Jardim Novo Horizonte Parque Ecológico do Jardim do Lago Lagoa do Bortolan Ações elencadas pela prefeitura contra a doença: Aplicação de carrapaticida e manutenção das gramíneas e outras espécies de capins com roçagem mecanizada nos parques; Em locais positivos para a presença do carrapato-estrela são colocadas placas informativas alertando sobre os cuidado e riscos da doença, além das unidades de saúde que devem ser procuradas; Ações educativas em escolas e outros espaços, com palestras, distribuição de folders e cartazes; Veiculação dessas campanhas educativas em mídias sociais e encaminhamento de material informativo às unidades de saúde, além de orientações a médicos que prestam o atendimento a pacientes com esses sintomas. A administração garante que a rede pública e privada de saúde estão orientadas e preparadas para dar o suporte necessário aos pacientes. ARQUIVO: Moradores entram com ação na justiça para a retirada de capivaras em parque de Limeira Saiba mais sobre a doença O que é a febre maculosa? Segundo o Ministério da Saúde, "a febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável", ou seja: há formas leves e formas graves ("com elevada taxa de letalidade"). Os sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras doenças que causam febre alta. O que causa a doença? A doença é causada, no Brasil, por duas bactérias do gênero Rickettsia, e a transmissão ocorre por picada de carrapato. A Rickettsia rickettsii causa a versão grave e é encontrada no norte do Paraná e no Sudeste. A Rickettsia parkeri leva a quadros menos severos e é encontrada em áreas da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, na Bahia e no Ceará. Quais carrapatos transmitem? No país, são os carrapatos do gênero Amblyomma, principalmente aquele conhecido como carrapato estrela. Mas o ministério alerta que qualquer espécie pode transmitir a febre maculosa, inclusive o carrapato do cachorro. Dá para transmitir de pessoa para pessoa? Não. A transmissão por contato humano é impossível. Quais são os principais sintomas? Febre; dor de cabeça intensa; náuseas e vômitos; diarreia e dor abdominal; dor muscular frequente; inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés; gangrena nos dedos e orelhas; e paralisia dos membros que começa nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando problemas respiratórios. Mas e as manchas? O Ministério da Saúde alerta que, com a evolução do quadro, “é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés”. Tem tratamento? Sim, com um antibiótico específico. Ele deve começar imediatamente assim que o médico suspeitar que o paciente está contaminado, antes mesmo da confirmação do resultado do exame. Febre maculosa é transmitida por carrapato Adelcio R Barbosa/ Prefeitura de Contagem/Divulgação Pedidos anteriores de remoção e sorologia Em janeiro de 2020, o promotor da Saúde Pública Rafael Augusto Pressuto pediu a remoção de capivaras do parque, apontando risco de infecções por febre maculosa. No documento juntado no processo, o promotor acatou os argumentos dos moradores que reforçaram a necessidade de preservação da saúde coletiva. Já à época, a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente consideraram a remoção inviável. "Por ora, verifica-se que não há benesse social à manutenção das espécies, sobretudo considerando a saúde das pessoas, também inseridas no conceito de meio ambiente. Com fundamento no exposto, opino pela concessão da antecipação da tutela, a fim de que o Município de Limeira providencie a remoção das capivaras que habitam o Parque Ecológico Jardim do Lago até que se ultime a instrução processual, com análise exauriente do caso", apontou o MP-SP, em seu primeiro parecer. À época, a associação de moradores pontuou no processo que um pedido para realização de sorologia nas capivaras já tinha sido feito em 2017. À época que a ação foi protocolada, estavam na área cerca de 30 capivaras. Ciclo da febre maculosa envolve carrapatos e capivara Amanda Paes/G1 VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba

source https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2023/06/15/justica-exige-exames-em-capivaras-para-controle-de-febre-maculosa-em-limeira-jovem-de-17-anos-morreu-pela-doenca-em-marco.ghtml
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