Entenda por que o consumo de carne pode estar ligado à ameaça de extinção de anfíbios


De acordo com pesquisa publicada pela Nature, 40,7% dos anfíbios de todo o mundo estão ameaçados de extinção. Em 80% dos casos, o consumo de carne e a exploração agropecuária aparecem como causadores, explica professor da Unicamp. Hoogmoed's Harlequin Toad; foto coletada durante a pesquisa Jaime Culebras/Divulgação O consumo de carne e a exploração agropecuária podem estar ligados à ameaça de extinção que atinge 40,7% das espécies de anfíbios de todo o mundo. É o que revela um estudo publicado no início deste mês pela revista Nature, resultado de um levantamento realizado entre 2004 e 2022 por mais de mil cientistas. De acordo com o professor titular do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Felipe Toledo, um dos autores da publicação, as produções agrícolas e a pecuária estão gerando impactos em mais de 80% das espécies, sendo que metade corre o risco de deixar de existir (entenda os detalhes abaixo). 📲 Receba no WhatsApp notícias da região de Campinas A pesquisa “Declínios contínuos dos anfíbios do mundo em face às ameaças emergentes” avaliou mais de 8 mil espécies, o que representa cerca de 94% do total conhecido pela ciência, e faz parte da segunda avaliação global sobre anfíbios – o primeiro levantamento foi realizado no período de 1980 a 2004. Ao g1, Toledo deu detalhes sobre os principais achados da pesquisa. Ele explicou o que está por trás desses dados porque a extinção de anfíbios é tão preocupante. Spotted Reed Frog Milo Putnam/Divulgação Nessa matéria você vai conferir: O que diz a pesquisa O que está por trás da ameaça de extinção Como a extinção impacta nossas vidas O que é possível fazer para reverter esse cenário Anfíbios sob ameaça 🐸 O estudo mostra que os anfíbios representam a classe de animais mais vulnerável. Um exemplo disso é que seu índice de ameaça de extinção, que ultrapassa 40% do total de espécies, é maior do que o observado entre mamíferos (26,5%), répteis (21,4%) e aves (12,9%). Veja pontos importantes: Dois a cada cinco anfíbios de todo o mundo estão ameaçados de extinção; Quatro anfíbios, sendo dois da Guatemala, um da Costa Rica e outro da Austrália foram considerados extintos no novo levantamento; Outros 27 passaram a ser classificados como potencialmente extintos; Com isso, o número de espécies que possivelmente desapareceram chegou a 160. As principais causas da ameaça de extinção 🐸 Assim como ocorre com os outros reinos biológicos, a ação humana configura a principal ameaça para extinção de anfíbios, segundo dados do estudo. Da alimentação aos danos causados no clima, as causas podem ser divididas entre dois pilares, como detalha o professor: 🥩 Consumo de carne e sistema agropecuário Toledo explica que o desmatamento provocado por esses setores, aliado ao uso de substâncias que alteram o habitat dos anfíbios, como os agrotóxicos, tornam o ambiente hostil e expõem os animais ao risco de morrer. “Isso é relevante, especialmente, no nosso país, porque grande parte do nosso território é dominado pela agricultura e pecuária”, comenta. A complexidade desses problemas exige a criação de políticas públicas, mas Toledo pontua que mudanças de hábito também poderiam frear os danos. “Por exemplo, se a gente pudesse trocar alimentação muito carnívora para outra mais herbívora, para não dizer mais vegetariana. Isso é, com certeza,menos impactante do que uma dieta baseada em carne”. “Não estou falando nem de veganismo, nada radical, mas uma uma conscientização das pessoas, uma redução do consumo de carne ou de alimentos [que valorizem mais] a agricultura local e não as dos grandes produtores”, destaca. Gliding Treefrog Robin Moore/Divulgação 🌍 Mudanças climáticas O declínio nas populações de sapos, rãs, pererecas, salamandras, cecílias, cobras-cegas e tritões também está diretamente ligado às alterações climáticas. No Brasil, o artigo alerta para a redução do sucesso reprodutivo de rãs de desenvolvimento direto (é o caso dos gêneros Cophixalus e Brachycephalus), devido à degradação e à diminuição do volume de chuvas na Mata Atlântica. A maior incidência de eventos extremos, como secas, furacões e enchentes, segundo o artigo originado do estudo, provoca alterações em aspectos como temperatura e umidade dos habitats desses animais e compromete seu ciclo reprodutivo, sua capacidade de respiração, mais sensível à interferências externas, e sua alimentação. “Os anfíbios respiram pela pele [...] e estão suscetíveis a contaminantes no solo, no ar, na água. Então qualquer lugar que a gente polui vai afetar diretamente”, afirma o professor. “Eles têm problema com com aumento da radiação ultravioleta que, conforme a gente está destruindo a camada de ozônio, está aumentando”. Impactos da extinção de anfíbios na vida humana 🐸 A extinção de qualquer espécie, por si só, representa uma perda significativa para a natureza e para a história do planeta terra. Em alguns casos, também pode acarretar consequências à vida humana. 🦟 Sem controle de pragas e doenças Felipe Toledo lembra que os anfíbios são predadores de insetos, o que inclui pragas agrícolas. Sem eles, a população desses bichos pode sofrer desequilíbrio e acabar causando danos em plantações. Como consequência, os agricultores acabam usando ainda mais defensivos agrotóxicos. “Isso vai fazer o quê? A gente vai ter no supermercado uma comida mais cara e pior em qualidade, porque está banhada com esses defensivos, sendo que muitos deles são até proibidos em várias partes do mundo”. Essas espécies também ajudam a controlar a presença de insetos vetores de doenças como dengue, febre amarela e malária, por exemplo. “Todas essas doenças podem ser diminuídas com a presença dos anfíbios. Eles estão comendo as larvas dos mosquitos e isso reduz a quantidade de mosquitos vetores de doenças”. 💊 Remédio na indústria farmacêutica Outra questão é a produção de medicamentos. “Tem vários remédios que podem ser produzidos a partir do veneno dos sapos. As pessoas não conhecem muito isso, mas os anfíbios têm secreções. Isso pode ser usado pela indústria farmacêutica e é importante para o ser humano”. 🌱 Natureza mais viva Por último a gente tem a questão paisagística. “Perdendo os anfíbios, a gente está perdendo a natureza. Hoje em dia as matas são silenciosas. Antigamente, quando a gente ia num sítio, numa fazenda curtir um final de semana ou mesmo morar, a gente tinha aqueles brejos, lagos, riachos com o coaxar dos sapos”. “Isso é importante para a qualidade de vida do ser humano, né? [Sem eles], o ambiente fica menos rico, menos interessante, menos colorido, menos sonoro. O mundo vai ficando mais chato”. Ainda dá tempo de fazer alguma coisa? 🐸 Plethodon welleri Todd W. Pierson/Divulgação Da primeira avaliação até 2022, houve uma melhora na classificação de 120 anfíbios na Lista Vermelha da Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês), que relaciona os animais mais ameaçados do planeta. É uma resposta positiva às ações de conservação. O professor da Unicamp diz que o cenário não é dos mais otimistas. O agravamento dos fenômenos climáticos já está destruindo as espécies. Entretanto, diz que ainda é possível adotar algumas atitudes, principalmente do ponto de vista das políticas públicas, como a criação de reservas naturais e políticas de proteção. “No estudo a gente mostra que teve alguns casos de recuperação, muito menos do que as espécies que a gente tá perdendo, mas existem exemplos de esforço de conservação que deu certo. Dá para você criar uma espécie em cativeiro e depois soltar na natureza? Existe isso, mas é bem difícil porque o problema está na natureza, né?”. “Uma outra questão é a educação. [Precisa de] educação ambiental para as pessoas saberem do problema, para o problema começar a aparecer na mídia e, aí sim, chamar a atenção para essa causa”. VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias sobre Campinas e região.

source https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2023/10/22/entenda-por-que-o-consumo-de-carne-pode-estar-ligado-a-ameaca-de-extincao-de-anfibios.ghtml
Postagem Anterior Próxima Postagem

Facebook