'Sou um milagre': o bombeiro de AL curado da leucemia por doação de médula óssea da irmã


Ricardo Nakano foi diagnósticado com Leucemia Mieloide Aguda no período mais crítico da pandemia do Coronavírus. Após a desistência de um doador 100% compatível, transplante foi feito com doação da irmã, que tinha 50% de compatibilidade. Patrícia e Ricardo Nakano, irmãos fortaleceram elo que os une após transplante de medula óssea Arquivo pessoal Era julho de 2020, o mês com mais mortes por Covid-19 no Brasil. À época, o 3º Sargento do Corpo de Bombeiros de Alagoas Ricardo Nakano, de 39 anos, havia sido infectado pelo coronavírus e ainda se recuperava quando voltou a se sentir mal. Após novos exames, veio o diagnóstico: Leucemia Mieloide Aguda com componente monocítico, um dos tipos mais graves da doença. 📲 Clique aqui para se inscrever e receber no seu WhatsApp as notícias do g1 Ele passou por um longo tratamento e enfrentou a espera na fila de transplante de medula óssea até conseguir uma doadora: a sua própria irmã. Nesse terceiro sábado de setembro, Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, o g1 conta a história do bombeiro que encontrou no amor da família a chance de continuar vivendo. A leucemia doença chamada de câncer no sangue, ocorre, de maneira geral, na nossa fábrica de células sanguíneas, a medula óssea. A produção desordenada ou acúmulo excessivo de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo, provocam a doença. A notícia caiu como uma bomba na família. Nakano conta que levava uma vida normal, tanto em casa quanto no trabalho, o Corpo de Bombeiros, onde atua há 17 anos. Sempre enfrentou situações difíceis e adversas, mas não estava preparado para enfrentar uma doença grave como essa. "Assim que soube, entrei em desespero. Lembro que abracei forte minha filha e só gritava: 'Não'! Minha esposa me acalmava enquanto uma enxurrada de questionamentos invadiam minha mente: Como seria tratamento? Seria o fim? O que aconteceria comigo? Como ficaria minha família? Mas, Deus me deu tanta força que fui confiante em busca da vitória. Estava com muito medo", relembra o militar. Ricardo Nakano passou por diversas sessões de quimioterapia durante tratamento contra leucemia Arquivo pessoal LEIA TAMBÉM: Leucemia: entenda os tipos, sintomas e tratamentos da doença Casal de cientistas de SP é premiado em estudo sobre novo tratamento contra leucemia Ele precisou iniciar o tratamento imediatamente. Passou por quatro ciclos de quimioterapia antes do transplante. No primeiro, precisou ficar internado 28 dias. Foi quando teve uma infecção e precisou ser internado na Unidade de Tearapia Intensiva (UTI). "Alguns não acreditavam que eu sairia de lá, mas Deus me resgatou e me deu uma nova chance". Desde a descoberta da doença, ele foi informado que precisaria de um transplante de médula óssea. O passo seguinte foi a busca por um doador. Assim, ele foi incluído no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). A chance de encontrar uma medula compatível é, em média, de uma em cem mil. Uma corrida contra o tempo se iniciava para o militar. A família inteira teve amostras de sangue coletadas para fazer testes de compatibilidade, inclusive um irmão que mora no Japão. Os amigos se uniram, também fizeram testes e se cadastraram como doadores. "Meus amigos se cadastraram no Redome. Eles fizeram uma campanha imensa para me ajudar, tanto durante o tratamento quanto com a busca por um doador. Hoje, muitos deles estão cadastrados e não tenho dúvidas de que, se forem convocados, salvarão vidas", comemora. Tratamento era agressivo e provocou diversas mudanças físicas em Ricardo Nakano; na foto, ele recebe carinho da esposa e da filha Arquivo pessoal A campanha ganhou força nas redes sociais através do perfil @forçanakano, criado por amigos de farda. Além de chamar atenção para a necessidade de se cadastrar como doador de medula óssea, o perfil também realizava ações para juntar dinheiro e custear as consultas e outras despesas referentes ao tratamento. Rodolfo Marcelo, responsável pelo página Força Nakano, conta que a ideia surgiu da inquietação de ver o amigo debilitado e isolado no período da pandemia. "Eu comecei a fazer uns vídeos divulgando, a gente juntou dinheiro, comprou TV, rifou, fomos fazendo várias ações, eu consegui acesso com a jogadora Marta, ela mandou um vídeo para a gente...", lembra. E, assim, a rede de solidariedade foi crescendo. O que parecia distante aconteceu e um doador 100% compatível foi localizado. Nakano se preparou para viajar até Recife, onde aconteceria o transplante, mas na última hora, não foi possível. "Foi durante a pandemia ainda. Uma frustração! Uma tristeza… não sei explicar. Quando estava me deslocando para a internação, o doador ficou indisponível por 6 meses e até hoje não sabemos o motivo", afirma. Os médicos, então, passaram a considerar outras possibilidades. A irmã havia feito o teste e a compatibilidade foi metade, 50%. "Na época, quando soube dessa porcentagem, fiquei triste, mas depois os médicos me relataram que era possível o transplante". Ricardo Nakano e o amigo Rodolfo Marcelo, que realizou campanha online para ajudar o militar no tratamento da leucemia Arquivo pessoal O transplante foi realizado em janeiro de 2021, no Hospital Real Português, em Recife. A data é considerada por Nakano o dia do seu renascimento. "Minha irmã tem pavor de agulha, desde a primeira coleta para a amostra ela sempre se mostrou muito forte, embora com medo. Ela queria muito me salvar! Ela me ama muito e eu senti e sinto esse amor! Eu também a amo muito! Gosto de falar que ela faz parte de mim, literalmente! Que eu sou parte dela! Que ela vive em mim", diz o militar. Após a operação, veio o período de recuperação, com todos os cuidados que a pandemia ainda exigia. "Exagerei muito na higienização e no contato com as pessoas". Barreiras psicológicas foram superadas, ele recuperou a forma física e, aos poucos, retomou a rotina e voltou ao trabalho. Atualmente, Nakano é operador aerotático do Comando de Aviação da Secretaria de Segurança Pública. "Após esse processo, avaliei o que precisava melhorar, meus erros, minha vida… hoje, percebo que sou um milagre. Gostaria de ajudar outras pessoas acometidas por essa doença. Minha missão hoje é transmitir a importância da doação de medula óssea. É só procurar o Hemocentro da cidade e coletar uma pequena amostra de sangue. Já pensou em torna-se o herói de alguém? Você pode! Doe medula e salve vidas!", incentiva. Nakano também comemora que o gesto solidário da irmã tornou o elo entre eles ainda mais forte, como faz questão de demonstrar nesse recado para a irmã: "Meu amor, quando você ler essa matéria, saiba que te amo muito! Que te admiro muito! Que não há o que faça ou diga que irá demonstrar a gratidão e o amor que sinto por você! Te amo! Obrigado por fazer parte de mim". Ricardo Nakano, curado da leucemia, hoje atua como operador aerotático do Comando de Aviação da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas Arquivo pessoal Como ser um doador de médula óssea Para se cadastrar como doador voluntário de medula óssea, o interessado deve: Ter entre 18 e 35 anos Ter boas condições de saúde Portar documentos como CPF ou RG Apresnetar um comprovante de residência Depois de preencher um formulário, o voluntário doa cerca de 5 ml de sangue, cuja amostra será submetida a um exame laboratorial para obter o código genético. Por meio do código genético, será realizado um cruzamento com os dados do Cadastro de Receptores de Medula Óssea (Rereme), para averiguar se o voluntário é compatível com algum dos pacientes que necessitam de uma doação. Se houver compatibilidade, o voluntário será convocado para realizar a doação e, posteriormente, haverá o transplante para o receptor. A doação Os custos da doação são pagos pelo Ministério da Saúde (MS). O voluntário é submetido a uma punção na medula óssea, que não deve ser confundida com a coluna vertebral. No procedimento, é retirada uma quantidade de um líquido esponjoso, que posteriormente será utilizado para ser transplantado no paciente. “Depois de 48 horas, o paciente já está restabelecido e pronto para seguir com as suas atividades normais e com a certeza de que salvou uma vida. E vale ressaltar que encontrar um doador de medula óssea compatível com um receptor é como ganhar na loteria, uma vez que, por conta da miscigenação, apenas uma pessoa em cada 100 mil será compatível com um paciente que precisa da doação”, informou a assistente social do Hemocentro de Alagoas (Hemoal), Dulce Torres. Quanto mais pessoas cadastradas como doadoras de médula óssea, maiores as chances de vida para os pacientes que aguardam por um transplante. Assista aos vídeos mais recentes do g1 AL Veja mais notícias da região no g1 AL

source https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2023/09/16/sou-um-milagre-o-bombeiro-de-al-curado-da-leucemia-por-doacao-de-medula-ossea-da-irma.ghtml
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