Ozonioterapia: como funciona e quais os riscos da prática autorizada pelo governo

Presidente Lula (PT) sancionou nesta semana lei que permite o procedimento. Decisão é considerada polêmica por ir contra norma do Conselho Federal de Medicina — que só autoriza a ozonioterapia em estudos científicos. Conheça os possíveis riscos da ozonioterapia como tratamento de saúde complementar Em uma decisão polêmica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contrariou a recomendação de entidades médicas e sancionou, nesta semana, uma lei que autoriza o uso da ozonioterapia como tratamento de saúde complementar. A decisão vai contra norma do Conselho Federal de Medicina (CFM), que só autoriza a ozonioterapia em estudos científicos. Também se opõe à orientação do Ministério da Saúde, que tinha recomendado ao presidente vetar a lei. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também não aprova nenhum equipamento de ozonioterapia para uso médico. "Atualmente, os equipamentos geradores de ozônio que estão regularizados na Anvisa são para uso restrito em odontologia e para assepsia e limpeza de pele, na parte estética. Somente isso. Fora isso, não tem aprovação científica", diz Anderson de Almeida Pereira, gerente de Tecnologia em Equipamentos Médicos da Anvisa. Mas o que é a ozonioterapia? Antes, é importante a compreensão sobre o que é o ozônio. Em condições normais, ele é um gás — o mesmo que forma a camada de ozônio, em uma altitude entre 15 e 40 quilômetros da Terra. "O ozônio é fundamental pra filtrar a radiação ultravioleta, que é nociva ao ser humano. É parte da vida, porque ele vem do oxigênio, que mantém toda a vida", explica o professor titular de Química Inorgânica da USP, Henrique Toma. O ozônio é praticamente um irmão gêmeo do oxigênio — o mesmo que está na atmosfera, no ar que respiramos. Em termos simples, o oxigênio é mais "tranquilo": se ninguém mexer, ele fica na atmosfera sem aprontar tanta coisa. Já o ozônio, não. Ele é o gêmeo temperamental. É instável, carregado e "quer" reagir com tudo o que está em volta dele. Onde o ozônio entra, acontece o maior estrago. Na ozonioterapia de uso médico, normalmente o gás tem de ser bombeado para dentro do corpo pelo ouvido, pela vagina ou pelo reto. Também existem injeções e o procedimento de tirar o sangue, misturar com ozônio e injetar de volta. Nada disso, entretanto, tem comprovação científica. Já foram feitas tentativas junto à Anvisa para aprovar o uso médico da substância. Os estudos, porém, não foram considerados consistentes. "Foram vários processos protocolados, e nenhum conseguiu comprovar a sua eficácia clínica", diz Anderson de Almeida Pereira, da Anvisa. Quais os riscos e como funciona a ozonioterapia? Para demonstrar os danos de que o ozônio é capaz, o professor Henrique Toma fez um experimento simples com dois elásticos (veja no vídeo do topo desta reportagem). O especialista inseriu um pedaço de borracha dentro de um recipiente de vidro. Em seguida, inseriu o ozônio. Em poucos minutos, a borracha foi desmembrada. "Depois de algumas horas, vira um pó. Não vai sobrar nada da borracha", explica o professor. "Dentro do nosso corpo, o problema é o que ele vai fazer. [Se] o tecido que está contaminado é um tecido que você quer se livrar dele, as pessoas falam: 'vou usar ozônio pra matar esse tecido'. Mas o ozônio não mata só o tecido contaminado. Ele mata todo e qualquer tecido", alerta. Por esse motivo, nas especialidades em que o ozônio está aprovado no Brasil, como a odontologia, o uso é externo e local, em uma área bem restrita. Não tem nada de introduzir ozônio para circular no corpo. "Nós precisamos trabalhar com uma dose adequada, com a forma correta do ozônio, no momento adequado", diz Carlos Goes Nogales, presidente da Câmara de Ozonioterapia no Conselho Regional de Odontologia de São Paulo. O que diz a Associação Brasileira de Ozonioterapia O site da entidade menciona a ozonioterapia como um tratamento de apoio para dores, inflamações crônicas, infecções variadas, feridas e queimaduras, problemas vasculares, derrames cerebrais, esclerose múltipla, tumores malignos e até autismo. Para entender como um mesmo tratamento poderia ser usado pra tantas doenças diferentes, a equipe do Fantástico procurou pela associação, que enviou uma nota. No texto, o presidente da entidade, Antônio Teixeira, vai no sentido oposto ao do próprio site da associação. Ele diz que a entidade não indica ozonioterapia para diversas patologias que ainda necessitam de estudos mais robustos. O dirigente também declarou que qualquer afirmação de que o ozônio medicinal não tem evidência científica é "falaciosa e retórica". Disse ainda que a alegação de que esse gás medicinal é tóxico "é terrorismo científico". Apesar de o potencial médico do ozônio ser debatido há mais de 100 anos, até hoje a ozonioterapia não se enquadra na "medicina baseada em evidências" — aquela em que pesquisas consistentes mostram ser um tratamento seguro e eficaz. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida. 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source https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/08/13/ozonioterapia-como-funciona-e-quais-os-riscos-da-pratica-autorizada-pelo-governo.ghtml
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