Copacabana Palace, 100 anos: hotel transformou um bairro recém-saído de um areal em um mar de prédios cosmopolita e luxuoso


Hotel, inicialmente construído para as celebrações do centenário da Independência, ficou pronto quase um ano depois. Erguida no meio de mansões e chalés, construção impulsionou outros prédios na região. O Copacabana Palace antes e agora Initial plugin text Rio de Janeiro, 1919. Epitácio Pessoa — o presidente, não a avenida — tinha um plano: transformar Copacabana. Mas logo aquele areal ermo? Não fazia muito tempo, era uma viagem de um dia para chegar lá...! Àquela época, a então capital da República se expandia lentamente para oeste da Baía de Guanabara, e quem visse o Rio de Janeiro do Atlântico contava uma meia dúzia de casas. Faltavam 3 anos para o Centenário da Independência, e a ordem era criar quartos, muitos quartos, para a festa de 1922. Uma família já ligada à hotelaria recebeu uma encomenda. Em pouco mais de 30 meses, erguer um pouso de luxo num lugar pensado para virar a Riviera carioca. Assim começa a história do Copacabana Palace, que neste domingo (13) chega a 100 anos de vida. E o hotel realmente transformou o bairro e o projetou para o mundo. Você vai ver nesta reportagem: Como era Copacabana antes do Copa? Como o Copa foi construído? Por que o hotel transformou Copacabana? Quantos quartos têm o Copa e quanto custa dormir lá? Músicos, atores, cientistas e reis fizeram do hotel o principal pouso de celebridades no Rio por décadas Copacabana antes do Copa Foto sem data de Augusto Malta registra uma Copacabana selvagem Acervo Instituto Moreira Salles No século 19, não havia túnel que ligasse o Centro e a então pequena Zona Sul a Copacabana — era preciso subir e descer morros, como o Tabajaras. Não à toa, todos os bairros banhados pelo Oceano Atlântico eram lugares inóspitos e pouco povoados. O Posto 6 era o ponto “mais movimentado”: na rocha onde hoje fica um forte ornava a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. O templo era um local de peregrinação, mas, por conta da dificuldade de acesso, os fiéis demoravam mais de um dia para ir e retornar para casa. O Posto 6 abrigou a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, que foi demolida, e hoje é o endereço do Forte de Copacabana Initial plugin text Essa “lonjura” fez com que alguns pontos de comércio começassem a surgir. “As pessoas pernoitavam em volta da igreja. Tinha um movimento festivo. Pois às vezes as pessoas ficavam lá almoçando, jantando, dançando. E no começo, lá em 1904, 1905, 1906, por aí, foi surgindo um restaurante, que depois virou um cabaré. Isso tudo foi animando aquele cantinho da praia”, afirmou a arquiteta Claudia Grangeiro, do Instituto Pereira Passos. Cláudia é mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ) com o projeto “Praia de Copacabana: elementos urbanos na construção da paisagem cultural do Posto Seis”. A arquiteta lembra que só em 1892 abriram o Túnel Velho — aquele colado no Cemitério São João Batista e que dá nas ruas Siqueira Campos, Santa Clara e Figueiredo de Magalhães. A chegada dos bondes de tração animal passou a facilitar o acesso ao bairro. O Túnel Velho, uma das primeiras ligações expressas a Copacabana, ontem e hoje Initial plugin text Orla de Copacabana em 1919 Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles No ano de 1904, por ordem do prefeito Pereira Passos, é aberta uma via de serviço litorânea que se tornaria a Avenida Atlântica. “O fato de a Avenida Atlântica existir mudou completamente o bairro de Copacabana, e acho que isso influenciou muito outras cidades. Já havia sido construída a Avenida Beira-Mar, ali em Botafogo e Flamengo. Pereira Passos, na época, prefeito do Distrito Federal, o presidente era o Rodrigues Alves, estavam implementando essas melhorias na cidade. Decidiram abrir essa avenida litorânea. Até então as casas eram voltadas para a Avenida Copacabana, as casas e as chácaras de veraneio”, destacou a arquiteta. O Túnel Novo ontem e hoje: dos bondes ao trânsito pesado Initial plugin text A obra da Avenida Atlântica só terminaria em 1910. Mas antes do fim dela, o bairro começava a mudar. Em março de 1906, foi inaugurado o Túnel Novo (aquele entre a Princesa Isabel e o RioSul). E a partir de 1909 e até 1911, a região passou por obras de saneamento. Em 1919, com a Avenida Atlântica já duplicada e pavimentada, Epitácio Pessoa achou que era hora de Copacabana virar a Princesinha do Mar. Como o Copa foi construído Theodor Preising registrou em 1922 o Copa se destacando numa inóspita Copacabana Coleção Brascan Cem Anos no Brasil/Acervo Instituto Moreira Salles A missão foi conferida aos Guinle. A família, até hoje sinônimo de glamour, já era proeminente no ramo hoteleiro. O empresário Octávio — quinto filho do casal Eduardo e Guilhermina Guinle — era o responsável pelo Palace Hotel, que ficava na então Avenida Central, atualmente Avenida Rio Branco. Coube a Octávio pilotar o plano de Epitácio, junto com o sócio Francisco Castro e Silva. Mas a ideia de um hotel de luxo em Copacabana não parecia financeiramente atraente — era um areal, lembram? O acordo só foi fechado com a promessa de permissão de instalação de um cassino no local. E se era para parecer com um hotel da Riviera Francesa, foi contratado para o projeto Joseph Gire, que havia desenhado vários deles. O arquiteto é o autor de outras obras no Rio, como o Hotel Glória e o edifício A Noite, primeiro arranha-céu da cidade. Hotel Glória, em 1928; à direita, Edifício A Noite, em 2021 Augusto Malta/Acervo Instituto Moreira Salles; Stephanie Rodrigues/g1 Mais tarde, ele voltaria a trabalhar com a família Guinle, com o projeto do que hoje é o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro. O prazo era 1922, mas, enfrentando várias dificuldades na construção, o hotel abriu as portas somente no 13 de agosto de 1923, quase um ano depois do começo das celebrações do Centenário da Independência. Initial plugin text O hotel recebeu a visita do presidente da República, nessa época Artur Bernardes, na inauguração, que foi conduzida por Octávio Guinle. “O Sr. presidente da República percorreu todas as dependências do hotel, que é o maior da América do Sul, ora admirando a riqueza das decorações, ora examinando cuidadosamente os confortáveis móveis construídos no Rio de Janeiro e os luxuosos mobiliários importados da Suécia”, publicou o jornal O Paiz no dia 14 de agosto de 1923. Por que o hotel transformou Copacabana? O Copa três anos após a inauguração The Aircraft Operating Co. Ltd/Acervo Instituto Moreira Salles Ao longo do tempo, os hóspedes famosos ajudaram a consolidar a reputação do lugar, que passou a ser um espaço de desejo. Por mais que o Rio de Janeiro contasse com outros hotéis de luxo, todos queriam estar com a realeza e as celebridades nos salões do Copa. “O Copacabana Palace consagrou o bairro no turismo internacional e de qualidade. Ele começou a ficar conhecido fora do Brasil a partir desse endereço. A pessoa poderia não só se hospedar, mas também assistir a grandes shows, apostar em cassino. Era um lugar de muito glamour, de muita elegância. E de cultura brasileira. A gente estava formando uma cultura brasileira”, afirmou Cláudia. A arquiteta conta que o hotel chamou a atenção para a mudança no estilo de vida na região. “Em Copacabana havia uma série de mansões, palacetes, chalés. E cada um em um estilo diferente. Mas, a partir do Copacabana Palace, que era uma condição mais vertical, começaram a surgir os prédios, com apartamentos grandes, luxuosos, art-déco, a arquitetura moderna da época. Depois o modernismo se firmou em Copacabana”, ensinou a arquiteta. Fachada do Copacabana Palace, que completa 100 anos Stephanie Rodrigues/g1 Claudia destaca que Copacabana, ao longo de mais de um século de existência, é palco de uma efervescência e vitalidade com altos e baixos assim como o hotel. “Copacabana consegue se reinventar. E o Copacabana [Palace] é um exemplo disso. Já esteve decadente, já trocou de donos e continua um lugar de representatividade, de carioquice, de muito glamour ainda, apesar de muitos momentos que teve”, disse. Cláudia lembra que o hotel “é difícil de conservar”. “É um prédio antigo, tombado. Isso o torna um lugar que precisa de certas adaptações de vez em quando. Como edificação, como qualidade como hotel. Mas tem sido bem mantido e continua sendo um endereço de muito charme no Rio de Janeiro”, pontuou. Quantos quartos têm o Copa e quanto custa dormir lá? Copacabana Palace completa 100 anos de existência Stephanie Rodrigues/g1 O hotel tem 239 apartamentos e suítes em dois prédios: o principal e o anexo. As diárias, até a última atualização desta reportagem, custavam, por noite (sem taxas): Apartamento Superior Vista Cidade: R$ 2.200 Apartamento Superior Vista Lateral Mar: R$ 3.003 Apartamento Luxo Frente Mar: R$ 3.601 Suíte Vista Cidade: R$ 2.491 Suíte Piscina: R$ 3.501 Suíte Vista Mar: R$ 4.350 Suíte Luxo Frente Mar: R$ 6.302 Suíte Master: R$ 9.890 Suíte Cobertura Vista Mar: R$ 15.130 Suíte Cobertura Vista Parcial Mar: R$ 10.230 Suíte Copacabana: R$ 25.011 Há três restaurantes: Cipriani, MEE e Pérgula. Os dois primeiros são estrelados no Guia Michelin, um dos mais rigorosos do mundo. O complexo possui ainda 13 salões. Os maiores são o Nobre, com 355 m², e o Golden, com 311 m².

source https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/08/13/copacabana-palace-100-anos-hotel-transformou-um-bairro-recem-saido-de-um-areal-em-um-mar-de-predios-cosmopolita-e-luxuoso.ghtml
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